MEDICINA DE ÁREAS
DESÉRTICAS
As atividades de turismo de aventura em regiões de clima desértico
exigem um planejamento adequado, principalmente quando se trata da manutenção
da saúde e do devido suporte nutricional nestas regiões.
Estima-se que 1/3 do planeta tenha seu ambiente caracterizado como
deserto árido ou semiárido. No Brasil, o bioma da Caatinga, com uma área total
de 850.000 km², corresponde a 10% do território nacional e apresenta uma
fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos e uma baixa
variação da temperatura.
Caatinga (Fonte:http://evlafreitas.blogspot.com/2010/06/bioma-caatinga.html) |
Muitas doenças podem ser facilmente encontradas nesta região, com
destaque para as diarreias relacionadas à água e aos alimentos contaminados e
as doenças transmitidas por vetores.
Os agravos mais comuns nas atividades em Caatinga relacionam-se com a
disponibilidade da água e com as características do clima, tais como a
hipertermia, a insolação, a intermação, a hiponatremia e a desidratação, além
dos acidentes com cobras, escorpiões e insetos venenosos.
A Medicina do Deserto, termo usado internacionalmente, é caracterizada
pelo cuidado muitas vezes improvisado de pacientes em locais com as
características climáticas e geográficas típicas, associado à escassez de
recursos materiais e ao isolamento da área, podendo ocasionar um retardo no
acesso aos cuidados de saúde definitivos.
Assim como a Medicina de Montanha, a de Deserto encontra-se em constante
desenvolvimento e baseia-se na própria amplitude das especialidades médicas e
cirúrgicas associada ao desenvolvimento tecnológico e das comunicações.
O futuro da Medicina de Deserto depende do desenvolvimento de várias
frentes: educação, pesquisa, treinamento, tecnologia, comunicações e meio
ambiente. Tal desenvolvimento poderá aprofundar a compreensão dos profissionais
de saúde responsáveis pelo planejamento e pela execução do atendimento médico e
assim alcançar melhorias nos resultados clínicos.
Assim, pesquisas sobre a epidemiologia de doenças e agravos e o
desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências devem evoluir, para que a
prevenção e a mitigação de riscos possam ser plenamente empregadas neste campo
de conhecimento.
Curiosidade
Ação do Sol em regiões desérticas: Soldados da II Guerra Mundial
fritando ovo na chapa do carro de combate no deserto.
Distúrbios do Calor
O estresse por calor pode causar um espectro de doenças, variando desde
cãibras de calor benignas, intermação e insolação, até a hipertermia, com risco
de morte.
Como a temperatura central humana normal deve permanecer próxima aos
36,5 °C, casos com a temperatura corporal elevada e nos quais o organismo perde
a capacidade de compensar as variações ocorridas, podem evoluir com disfunções
metabólicas, alterações da atividade cardíaca, colapso circulatório, alterações
neurológicas, convulsões, coma e morte.
As cãibras do calor
As cãibras causadas pelo calor são espasmos musculares dolorosos e
incapacitantes que resultam da associação do clima quente com exercícios
físicos prolongados e sudorese, muitas vezes com a reposição excessiva de água,
fato que acaba por diluir os eletrólitos do sangue contribuindo para o
transtorno.
O uso de roupas inadequadas e a exposição a ambientes quentes por
trabalhadores, atletas e militares, mesmo que previamente saudáveis, podem
cursar com as contrações fortes e dolorosas dos músculos dos membros superiores
ou inferiores características das cãibras.
Intermação
Este quadro relaciona-se com a ação prolongada do calor, em ambientes
com baixa ventilação ou mesmo em pessoas usando roupas pesadas. Até pessoas na
praia, após a permanência por muito tempo sob o guarda-sol podem apresentar
este transtorno.
Os pacientes têm aparência de cansaço e podem apresentar sudorese,
taquicardia e estado mental preservado. Os sintomas incluem fraqueza, tonturas,
cefaleia, náuseas, vômitos e síncope por calor. A temperatura é frequentemente
normal ou não excede 40°C.
Insolação
Quadro semelhante ao anterior, considerando a ação direta dos raios
solares sobre a pessoa.
Hipertermia
A hipertermia é caracterizada pela elevação da temperatura corporal a
patamares acima da capacidade de o organismo dissipar, isto é, há uma falha da
capacidade de compensação da temperatura corpórea.
Nem sempre a hipertermia relaciona-se com a exposição ao sol, quando
causada por esforço, pode ocorrer mesmo em temperaturas ambientais moderadas,
especialmente entre os atletas de esporte de aventura e ultramaratonistas.
Por ser considerada uma emergência médica, necessita de tratamento de
imediato a fim de evitar as complicações dos quadros mais graves.
Tratamento das doenças do Calor
Na abordagem destas vítimas, a remoção da causa do estresse pelo calor e
o resfriamento rápido do corpo são essenciais para garantir a não evolução para
os quadros mais graves ou mesmo evitar um desfecho trágico.
Uma boa opção para o resfriamento é a imersão total do corpo em água
fria ou até gelada. Porém, em regiões de deserto essa intervenção geralmente
não é prática. Nestas circunstâncias, umedecimento da pele e ventilação
agressiva podem ser usados na tentativa de diminuir a temperatura do
paciente.
O tratamento pode ser realizado deixando-se a vítima em um ambiente
fresco e com a reposição de bebidas que contenham sais ou até alimentos
salgados. Soro caseiro ou uma bebida esportiva são boas opções, em volumes de 1
a 2 litros. Casos mais graves são tratados com líquidos e sais administrados
via intravenosa, e em geral o alongamento do músculo afetado alivia
imediatamente a dor.
Manejo do
paciente com estresse do calor
- coloque o paciente em lugar
fresco e ventilado
|
- mantenha a cabeça do paciente mais
alta do que o corpo
|
- retire a roupa que for possível
e afrouxe ou abra as restantes;
|
- aplique
compressas frias na cabeça, pescoço, abdome e nas regiões de grandes vasos
|
- ofertar
líquidos se estiver acordado
|
- mantenha em repouso até a normalização
do quadro
|
- converse com a vítima para acalmá-la
e avaliar o seu estado de consciência
|
Desidratação
Atenção deve ser dada para a desidratação que ocorre quando
o indivíduo perde mais água do que repõe, evoluindo com um volume
de sangue menor que o normal, o que força o coração a
aumentar o seu ritmo para compensar (taquicardia), podendo apresentar outros
sintomas como fraqueza, tontura, dor de cabeça, fadiga, coma e
morte.
Soro
caseiro ou bebidas esportivas são indicados em casos de desidratação pois
previnem as complicações que podem ocorrer.
Observações
quanto à Hiperidratação
Por
outro lado, a ingestão excessiva de água pode causar um desequilíbrio
hidreletrolítico no organismo causada pela concentração anormalmente baixa
de sódio no sangue. O sinais e sintomas incluem
letargia, apatia, desorientação, câimbras, anorexia, náuseas, dores de
cabeça e perda da consciência que pode evoluir com a morte.
Há
alguns anos uma aventureira, durante um "trekking" no "Grand Canyon", consumiu uma
quantidade excessiva de água e ao retornar da expedição apresentou um quadro de
síncope que evoluiu de forma desfavorável, vindo a falecer em seguida.
Link para o artigo do caso:
Quando
suspeitar de doenças do calor:
- dor de cabeça;
- náuseas e vômitos;
- tonturas;
- rosto avermelhado;
- pele quente e seca;
- muitas vezes não há suor presente
- pulso rápido;
- temperatura
elevada do corpo e extremidades;
- respiração acelerada e difícil, muitas
vezes a vítima parece sufocada;
- temperatura
elevada do corpo e extremidades;
- desmaio
e pele pálida;
- extremidades
arroxeadas;
- em casos mais intensos, convulsões e
até mesmo a morte.
OBS.: Pensar em quadros associados de
queimadura e desidratação
Queimaduras e Insolação - pensar sempre. (Fonte: https://www.tuasaude.com/sintomas-de-insolacao/) |
Prevenção
- use
proteção na cabeça e na nuca ao estar ao sol, de preferência com chapéus
apropriados.
- use
roupas folgadas e de cores claras;
- prefira
uma alimentação rica em com hortaliças e frutas, sem se descuidar dos
carboidratos como fonte de energia e das proteínas como prevenção de perda de
tecido muscular.
- beba
muita água (atenção para o caso relatado acima), sucos de frutas e bebidas isotônicas
– uns 3 litros por dia podem ser suficientes.
- evite
a exposição e os esforços sob o sol das horas de muito calor - atenção
para o período entre as 10 e 16 horas.
- planeje
atividades observando os ambientes ventilados ou arborizados, informando a rota
para alguém próximo e prevendo momentos de resfriamento e hidratação no
percurso.
-
não se descuide do protetor solar pelo menos 30 minutos antes da exposição
solar.
"PRATIQUE AVENTURA"