quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019


“Ô sol vê se não esquece e me ilumina
Preciso de você aqui
Ô sol vê se enriquece a minha melanina
Só você me faz sorrir”... (Vitor Kley)




Olá! Aventureiros,

Saindo do consultório da dermatologista, pois estava intrigado com algumas manchas que percebi no autoexame de pele, lembrei do nosso astro-rei, companheiro constante de nossas expedições e exercícios ao ar livre, e dos benefícios que nos concede, mas também das lesões e problemas de saúde, muitas vezes sérios, associados a ele.

Confesso que nunca fui de me cuidar quando era mais jovem e desinformado, guardando na memória alguns episódios de sérias queimaduras solares por exposição sem proteção. Lembro também de um "trekking" no litoral sul, realizando a travessia de Tavares, pelo Parque Nacional da Lagoa do Peixe, até Rio Grande, ocasião em que consegui algumas queimaduras sérias nas pernas.

Travessia no litoral sul - sob o sol.

E qual a importância do sol nesta história?

Em relação aos benefícios, vem logo à cabeça a Vitamina D, sobre a qual se pode afirmar que foi a vitamina mais estudada nos últimos anos, quanto a sua formação e ativação, e sua relação com nossa saúde óssea, com a obesidade, com o desenvolvimento de câncer e na saúde em geral. A exposição aos raios ultravioleta B ativam a vitamina D em sua forma pré-hormonal, para que então seja metabolizada no fígado e rins, a fim de ser convertida para a forma ativa, a qual irá nos proporcionar todos os efeitos benéficos no organismo. 

O outro lado da moeda, em relação à exposição solar, refere-se às queimaduras, já abordadas aqui no Blog, e ao risco de desenvolvimento de câncer de pele.

Sobre o câncer, destaco os seguintes tipos:

- Carcinoma basocelular (CBC): o mais comum e menos agressivo, que pode ser curado em caso de detecção precoce. Aparecem nas regiões mais expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas, mas podem se desenvolver em áreas não expostas.

- Carcinoma espinocelular (CEC):  segundo mais prevalente dentre todos os tipos de câncer e que pode se desenvolver em todas as partes do corpo, sendo mais comum nas áreas expostas ao sol, como orelhas, rosto, couro cabeludo, pescoço etc. A pele nessas regiões, normalmente, apresenta sinais de dano solar, como enrugamento, mudanças na pigmentação e perda de elasticidade. Este tipo de câncer é duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres e pode estra associado a outros fatores, além da exposição solar, tais como feridas crônicas e cicatrizes na pele.

- Melanoma: tipo menos frequente, porém o mais agressivo câncer de pele, possuindo um alto índice de mortalidade. O segredo para evitar as complicações está na detecção precoce da doença e retirada cirúrgica da lesão, o que eleva para mais de 90% a chance de cura. Nos estágios mais avançados, a lesão é mais profunda e espessa, o que aumenta a chance de se espalhar para outros órgãos (metástase) e diminui as possibilidades de cura.
Atenção 1:
A lesão em geral tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos e que apresentam mudanças de cor, de formato, de tamanho ou sangramento. Por isso o autoexame de pele é de suma importância, devendo-se procurar um dermatologista caso se detecte alguma lesão suspeita.
Atenção 2:
As lesões podem surgir em áreas difíceis de serem visualizadas, apesar de serem mais comuns nas pernas, em mulheres; nos troncos, nos homens; e pescoço e rosto em ambos os sexos.
Atenção 3:
Pessoas de pele clara e que se queimam com facilidade quando se expõem ao sol têm mais risco de desenvolver a doença, porém indivíduos de pele mais escura e negros também podem desenvolver a doença.

A maioria dos cânceres da pele possui uma relação com a exposição ao sol, e considerando que a radiação ultravioleta (UV) tem efeito cumulativo, capaz de penetrar nas camadas mais profundas da pele e provocar o surgimento de pintas, sardas, manchas, rugas e os cânceres, além das queimaduras solares em si.

Uma lesão considerada “normal” por um leigo, pode ser suspeita para um médico e somente um médico especializado pode diagnosticar e prescrever a opção de tratamento mais indicada para cada tipo de câncer.

ABCDE para suspeição de lesões de pele. 
(Fonte:http://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/cancer-da-pele/64/)


Assim, aventureiros, como devemos proceder?  Consideramos que a exposição solar não protegida pode aumentar os níveis da vitamina D, e assim alcançaríamos uma ação “protetora” até contra o câncer? Ou devemos pensar que a exposição solar aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de pele?

Na verdade, devemos pensar de forma individualizada. Para mim, que já tirei um CBC, a atenção deve ser redobrada, devendo usar sempre a proteção devida, realizar o autoexame de pele e consultar com um especialista regularmente.

No geral, pensando na Vitamina D, com 15 minutos de sol diários e expondo pelo menos 25% do corpo aos raios solares, já é possível obter os benefícios esperados, principalmente com uma alimentação adequada com as fontes da vitamina (atum, sardinha, fígado, gema de ovo, vegetais ricos em óleo, leite, chocolate e manteiga).

Quanto à suplementação, lembramos logo do óleo de fígado de bacalhau, ofertado meio à força pelas mães mais zelosas, no formato da famosa "Emulsão Scott". No entanto, a ingestão excessiva de vitamina D pode cursar com “hipervitaminose”, relacionada com a calcificação de tecidos moles, além de náuseas, pressão alta, perda de apetite, insuficiência renal, fraqueza muscular e dores nas articulações. Portanto, a suplementação deve ser realizada só com orientação médica.



Lembranças da infância

Medidas Gerais de Prevenção:

·         Usar bonés, chapéus largos, camisetas, óculos escuros e protetores solares.

·         Para esportes recomendo o uso de camisas de manga comprida com proteção UV.

·         Evitar a exposição solar entre 10 e 16 horas.

·         Na praia ou na piscina, dar preferência a barracas feitas de algodão ou lona (absorvem 50% da radiação UV), enquanto as de nylon permitem que até 95% dos raios UV ultrapassem.

·         Usar filtros solares diariamente, e não somente em horários de lazer ou de diversão, com fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo.

·         Reaplicar o produto a cada duas horas ou menos, nas atividades de lazer ao ar livre.

·         Ao utilizar o produto no dia a dia, aplicar uma boa quantidade pela manhã e reaplicar antes de sair para o almoço.

·         Realizar regularmente o autoexame da pele e consultar um dermatologista uma vez ao ano, no mínimo, para um exame completo.


Camisas UV com FPS 50 são uma boa opção de proteção, junto com o bloqueador.

Ótimas lembranças da travessia no litoral sul - Richardson Luz, Dr. Bruno Cançado e eu.  

PRATIQUE AVENTURA!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

MEDICINA DE DESERTO

MEDICINA DE ÁREAS DESÉRTICAS

As atividades de turismo de aventura em regiões de clima desértico exigem um planejamento adequado, principalmente quando se trata da manutenção da saúde e do devido suporte nutricional nestas regiões.


Estima-se que 1/3 do planeta tenha seu ambiente caracterizado como deserto árido ou semiárido. No Brasil, o bioma da Caatinga, com uma área total de 850.000 km², corresponde a 10% do território nacional e apresenta uma fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos e uma baixa variação da temperatura.
Caatinga (Fonte:http://evlafreitas.blogspot.com/2010/06/bioma-caatinga.html)
Muitas doenças podem ser facilmente encontradas nesta região, com destaque para as diarreias relacionadas à água e aos alimentos contaminados e as doenças transmitidas por vetores.

Os agravos mais comuns nas atividades em Caatinga relacionam-se com a disponibilidade da água e com as características do clima, tais como a hipertermia, a insolação, a intermação, a hiponatremia e a desidratação, além dos acidentes com cobras, escorpiões e insetos venenosos.

A Medicina do Deserto, termo usado internacionalmente, é caracterizada pelo cuidado muitas vezes improvisado de pacientes em locais com as características climáticas e geográficas típicas, associado à escassez de recursos materiais e ao isolamento da área, podendo ocasionar um retardo no acesso aos cuidados de saúde definitivos.

Assim como a Medicina de Montanha, a de Deserto encontra-se em constante desenvolvimento e baseia-se na própria amplitude das especialidades médicas e cirúrgicas associada ao desenvolvimento tecnológico e das comunicações.

O futuro da Medicina de Deserto depende do desenvolvimento de várias frentes: educação, pesquisa, treinamento, tecnologia, comunicações e meio ambiente. Tal desenvolvimento poderá aprofundar a compreensão dos profissionais de saúde responsáveis pelo planejamento e pela execução do atendimento médico e assim alcançar melhorias nos resultados clínicos.

Assim, pesquisas sobre a epidemiologia de doenças e agravos e o desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências devem evoluir, para que a prevenção e a mitigação de riscos possam ser plenamente empregadas neste campo de conhecimento.

Curiosidade

Ação do Sol em regiões desérticas: Soldados da II Guerra Mundial fritando ovo na chapa do carro de combate no deserto.

                                       https://www.youtube.com/watch?v=x1rXLhow1Ro

Distúrbios do Calor
O estresse por calor pode causar um espectro de doenças, variando desde cãibras de calor benignas, intermação e insolação, até a hipertermia, com risco de morte.

Como a temperatura central humana normal deve permanecer próxima aos 36,5 °C, casos com a temperatura corporal elevada e nos quais o organismo perde a capacidade de compensar as variações ocorridas, podem evoluir com disfunções metabólicas, alterações da atividade cardíaca, colapso circulatório, alterações neurológicas, convulsões, coma e morte.

As cãibras do calor
As cãibras causadas pelo calor são espasmos musculares dolorosos e incapacitantes que resultam da associação do clima quente com exercícios físicos prolongados e sudorese, muitas vezes com a reposição excessiva de água, fato que acaba por diluir os eletrólitos do sangue contribuindo para o transtorno. 

O uso de roupas inadequadas e a exposição a ambientes quentes por trabalhadores, atletas e militares, mesmo que previamente saudáveis, podem cursar com as contrações fortes e dolorosas dos músculos dos membros superiores ou inferiores características das cãibras.

Intermação
Este quadro relaciona-se com a ação prolongada do calor, em ambientes com baixa ventilação ou mesmo em pessoas usando roupas pesadas. Até pessoas na praia, após a permanência por muito tempo sob o guarda-sol podem apresentar este transtorno.

Os pacientes têm aparência de cansaço e podem apresentar sudorese, taquicardia e estado mental preservado. Os sintomas incluem fraqueza, tonturas, cefaleia, náuseas, vômitos e síncope por calor. A temperatura é frequentemente normal ou não excede 40°C.

Insolação

Quadro semelhante ao anterior, considerando a ação direta dos raios solares sobre a pessoa.

Hipertermia
A hipertermia é caracterizada pela elevação da temperatura corporal a patamares acima da capacidade de o organismo dissipar, isto é, há uma falha da capacidade de compensação da temperatura corpórea.

Nem sempre a hipertermia relaciona-se com a exposição ao sol, quando causada por esforço, pode ocorrer mesmo em temperaturas ambientais moderadas, especialmente entre os atletas de esporte de aventura e ultramaratonistas.

Por ser considerada uma emergência médica, necessita de tratamento de imediato a fim de evitar as complicações dos quadros mais graves.

Tratamento das doenças do Calor
Na abordagem destas vítimas, a remoção da causa do estresse pelo calor e o resfriamento rápido do corpo são essenciais para garantir a não evolução para os quadros mais graves ou mesmo evitar um desfecho trágico.

Uma boa opção para o resfriamento é a imersão total do corpo em água fria ou até gelada. Porém, em regiões de deserto essa intervenção geralmente não é prática. Nestas circunstâncias, umedecimento da pele e ventilação agressiva podem ser usados ​​na tentativa de diminuir a temperatura do paciente.


O tratamento pode ser realizado deixando-se a vítima em um ambiente fresco e com a reposição de bebidas que contenham sais ou até alimentos salgados. Soro caseiro ou uma bebida esportiva são boas opções, em volumes de 1 a 2 litros. Casos mais graves são tratados com líquidos e sais administrados via intravenosa, e em geral o alongamento do músculo afetado alivia imediatamente a dor.

Manejo do paciente com estresse do calor

- coloque o paciente em lugar fresco e ventilado 
- mantenha a cabeça do paciente mais alta do que o corpo  
- retire a roupa que for possível e afrouxe ou abra as restantes;  
- aplique compressas frias na cabeça, pescoço, abdome e nas regiões de grandes vasos 
- ofertar líquidos se estiver acordado  
- mantenha em repouso até a normalização do quadro
- converse com a vítima para acalmá-la e avaliar o seu estado de consciência

Desidratação
Atenção deve ser dada para a desidratação que ocorre quando o indivíduo perde mais água do que repõe, evoluindo com um volume de sangue menor que o normal, o que força o coração a aumentar o seu ritmo para compensar (taquicardia), podendo apresentar outros sintomas como fraqueza, tontura, dor de cabeça, fadiga, coma e morte.
Soro caseiro ou bebidas esportivas são indicados em casos de desidratação pois previnem as complicações que podem ocorrer.

Observações quanto à Hiperidratação
Por outro lado, a ingestão excessiva de água pode causar um desequilíbrio hidreletrolítico no organismo causada pela concentração anormalmente baixa de sódio no sangue. O sinais e sintomas incluem letargia, apatia, desorientação, câimbras, anorexia, náuseas, dores de cabeça e perda da consciência que pode evoluir com a morte.


Há alguns anos uma aventureira, durante um "trekking" no "Grand Canyon", consumiu uma quantidade excessiva de água e ao retornar da expedição apresentou um quadro de síncope que evoluiu de forma desfavorável, vindo a falecer em seguida.

Link para o artigo do caso:


Quando suspeitar de doenças do calor:
-  dor de cabeça;  
- náuseas e vômitos;  
- tonturas;
-  rosto avermelhado;  
-  pele quente e seca;  
- muitas vezes não há suor presente
- pulso rápido;
- temperatura elevada do corpo e extremidades;  
- respiração acelerada e difícil, muitas vezes a vítima parece sufocada;
- temperatura elevada do corpo e extremidades;  
- desmaio e pele pálida;
- extremidades arroxeadas;
- em casos mais intensos, convulsões e até mesmo a morte.
  

OBS.: Pensar em quadros associados de queimadura e desidratação
Saiba quais são os Sintomas de insolação
Queimaduras e Insolação - pensar sempre. (Fonte: https://www.tuasaude.com/sintomas-de-insolacao/) 
Prevenção
-  use proteção na cabeça e na nuca ao estar ao sol, de preferência com chapéus apropriados.
-  use roupas folgadas e de cores claras;  
-  prefira uma alimentação rica em com hortaliças e frutas, sem se descuidar dos carboidratos como fonte de energia e das proteínas como prevenção de perda de tecido muscular.
-  beba muita água (atenção para o caso relatado acima), sucos de frutas e bebidas isotônicas – uns 3 litros por dia podem ser suficientes.  
-  evite a exposição e os esforços sob o sol das horas de muito calor -  atenção para o período entre as 10 e 16 horas. 
-  planeje atividades observando os ambientes ventilados ou arborizados, informando a rota para alguém próximo e prevendo momentos de resfriamento e hidratação no percurso. 
-  não se descuide do protetor solar pelo menos 30 minutos antes da exposição solar. 
  
"PRATIQUE AVENTURA"